quinta-feira, dezembro 31, 2009

Diários de um Fantasma



Quando eu morri, no caminho para a sepultura, disseram para mim que minha vida, como um fantasma, seria maravilhosa, compensando a miséria que encontrei antes de morrer: “você dormirá o dia inteiro em sua confortável sepultura, onde poderá se mexer à vontade. Você estará livre da multidão, do trânsito e da miséria diária. Acordará no meio da noite e andará livremente em sua cidade, sem ser parado por alguém para pedir seu documento. Poderá atravessar a rua quando quiser, sem correr o risco de ser atropelado. Poderá infringir todas as leis e viajar para qualquer país sem visto. Não ficará com fome nem sede, tampouco sentirá frio ou calor. Ninguém o matará, pois já está morto. Se quiser, e isto é o que mais importa, poderá se vingar, finalmente, de seus inimigos. Sua aparição atormentará aqueles que roubaram seu dinheiro e mataram seus filhos. Você se divertirá perturbando-os de seu jeito e transformando as noites deles num verdadeiro inferno. Você entrará nas casas deles, quando quiser. Poderá assustar os filhos deles, fazendo-os molharem as camas. Será o mestre. Verá todos se ajoelharem como cachorros ou correrem para um psiquiatra sem contar a ninguém que eles viram um fantasma, para que não sejam considerados loucos. Todas as receitas que lhes derem e todos os remédios que tomarem não farão efeito. Satisfeito com seu poder, você voltará para sua sepultura antes do amanhecer, cantando sua música predileta e planejando a noite seguinte”.


Faz anos que estou vagando pelas ruas de minha cidade todas as noites. Ninguém olha para mim. Ninguém me teme, nem mesmo as crianças. A riqueza daqueles que me mataram multiplicou-se, e suas barrigas cresceram. Às vezes, eu me perco em suas grandes mansões, mas, geralmente, eu os vejo celebrando ao redor de suas mesas cheias de comida durante noites de muitas risadas. Eles não se preocupam quando eu entro ou quando eu fico por lá. Eu paro perto de suas camas e grito, com toda minha força, em seus ouvidos, mas não escuto nada além de seus roncos barulhentos, cada vez mais fortes. Somente seus cachorros me cumprimentam, às vezes, latindo ou abanando os rabos quando eu saio, durante as madrugadas, frustrado devido a meu fracasso.


A sepultura é bem menor do que eu imaginava. Eu não durmo há mais de um ano. Meu vizinho me aconselhou consultar um psiquiatra. Ele me disse que muita gente sofre nos primeiros anos. Depois, aceitam a realidade e o fato de que nós fomos enganados duas vezes. Amanhã, irei ao médico.


Sinan Antoon / Agosto de 2009

Tradução direta do árabe: Khalid Tailche

Revisão Literária:

Dra. Glauce Rocha

sábado, dezembro 05, 2009

Os muros do medo

O aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim em novembro último me fez lembrar outros muros históricos. Desde a antiguidade, muitos foram símbolo de proteção contra perigo externo, como a grande Muralha da China. Ao mesmo tempo, os muros criaram o ambiente e ajudaram no desenvolvimento de cidades antigas
Com o tempo, os velhos muros desapareceram como forma de proteção, deixando no lugar os mapas modernos e suas divisões. As barreiras construídas na atualidade acompanham essa lógica e, diferentemente das antigas muralhas, são conhecidas por segregar, isolar e dividir mais do que proteger as cidades e seu povo. No mundo contemporâneo, os muros ganharam o apoio de equipamentos da alta tecnologia. São prisões ao ar livre que separam pessoas e as condenam a conviver isoladas umas das outras.
A chamada "cerca da separação" na Cisjordânia é um exemplo. Israel, sob a alegação de que sua construção visava impedir atentados suicidas, iniciou-a em 2002, na divisa com a cidade palestina de Qalqilia. São oito metros de altura em algumas partes e apenas uma abertura de seis metros para a passagem de pessoas e veículos, transformando a cidade em uma prisão. A construção foi condenada pela ONU (Organizações das Nações Unidas), e por artistas israelenses e palestinos chamados de “artistas sem barreiras”. Para protestar, eles fizeram grafites nos dois lados do mundo
Em Bagdá, o exército americano construiu vários muros com cerca de 3,5 metros de altura cada, circundando áreas chamadas de “oásis de segurança”. O objetivo foi isolar algumas partes da cidade de bairros mais violentos, em uma divisão sectária. O plano foi aceito pelo governo, mas o povo iraquiano se posicionou contrário a ser dividido por muros de concreto e forçado a atravessar postos militares nas ruas. Alguns artistas iraquianos reagiram da mesma forma que os palestinos e israelenses. Na tentativa de cobrir a face agressiva dos muros que cortavam a capital iraquiana Bagdá, eles fizeram pinturas nos muros. Neste ano, o governo iraquiano decidiu retirar as barreiras, o que foi antecipado pela última explosão de um ataque terrorista e mostrou a impotência de qualquer muro a não ser para segregar a população. O atentado deixou 45 pessoas mortas e 295 feridas.
Os muros de hoje são os fantasmas do passado, mas de má fama, por dividirem as pessoas. São a prova da falha humana no mundo atual, que tem dificuldade de lidar com seu próprio medo de aceitar o outro. Os novos muros se parecem mais com labirintos e criam uma sensação de perplexidade e impotência em um mundo considerado mais civilizado e globalizado. No entanto, o homem ainda reage de forma primitiva quando não consegue lidar com o próprio medo do outro. Para se proteger, ele volta para o local que sente mais segurança: entre as paredes da sua antiga caverna

Khalid Tailche

terça-feira, novembro 03, 2009

Teatro Iraquiano

Uma homenagem ao grupo da peça Saddaa ( Eco)
Al-Mahdi: O sucesso é uma vitória para a mulher e para o teatro iraquiano
Abd Al-Jaber Al-Atabi Sexta-feira, 30 de Outubro de 2009 . 16:30:00 GMT.

De Bagdá, Abd Al-Jaber Al-Atabi: O Instituto do Cinema e Teatro organizou, na manhã da última terça-feira, no Teatro Nacional, uma homenagem à equipe da peça Saddaa (Eco). O grupo teve sua heroína, a jovem Bushra Isma’il, como ganhadora do prêmio de melhor atriz no Festival de Cairo para O Teatro Experimental, que se encerrou na ultima semana de outubro. A homenagem foi também para o ator Aziz Khaioon por sua longa trajetória teatral e trabalhos com flores e velas. Estiveram presentes à homenagem grupos de atores e jornalistas. Houve também uma coletiva de imprensa acompanhando a simples homenagem. Durante a coletiva, se percebia que o sangue dos mártires do domingo passado ainda estava fresco nas mentes dos participantes, como foi demonstrado pelos discursos.

No começo, o diretor geral do Instituto do Cinema e Teatro, Dr. Shafiq al-Mahdi, disse: “É esta grande instituição iraquiana que tem que devolver o teatro para a nossa vida. Aqui é o ponto dos artistas iraquianos. Quero dizer que todos nós estamos juntos como parceiros seja qual for a entidade. Nós somos mais avançados que os políticos iraquianos por construir uma nova civilização. Neste ano, assim como no ano passado, estamos recebendo um novo prêmio internacional no Festival de Cairo por nossa grande competência.

Neste ano, junto com Hatam, Bushra e Samar conseguimos entrar numa forte competição e ganhar. É uma vitória, por um lado para a corajosa mulher iraquiana Bushra que, apesar das dificuldades, levantou a bandeira iraquiana vencendo centenas de atrizes concorrentes, o que foi uma honra. Por outro lado, foi uma vitória para o teatro iraquiano. O ano de 2010 será o ano de uma volta bem forte do teatro iraquiano a vários lugares”. E acrescentou: “Nós fomos desafiados neste espetáculo com ataques não justificados devido à escolha da obra de um professor da Universidade da Basrah.

Al-Mahdi reconheceu também a importância da homenagem ao artista Aziz Khaioon ao dizer: “o segredo que o fez ser homenageado é a maravilhosa trajetória ao longo de 35 anos deste ator elegante e generoso, dono de uma carreira brilhante, que estamos celebrando com respeito e elogios. Aziz Khaioon se tornou um personagem público iraquiano por divulgar a claridade, a transparência, a honestidade e a beleza. A homenagem recebida no Festival do Cairo é mais uma vitória para o teatro iraquiano.”

O Dr.Hamid Majid Al-Jubouri comentou que o artista Aziz Khaioon foi quem o apresentou ao teatro e o ajudou. Khaioon foi o diretor da primeira peça que Al-Jubouri escreveu. Al-Jubouri disse: “ A peça Saddaa tem 25 anos de idade. Foi escrita em cinco páginas, mas quando Aziz a folheou encontrou nela muitas coisas que eu não tinha escrito. Eu a reescrevi até que ele se contentasse. A peça quase ganhou um prêmio quando participei de um festival, mas isso não aconteceu. Na ocasião, o grande artista Youssif El-Ani disse: “ Foi a única peça injustiçada”.
O artista Aziz Khaioon afirmou que: “O Festival do Cairo deve sua importância à qualidade. Foi uma grande chance para o Iraque participar deste festival e eu não estou surpreso com o resultado. Eu não digo isso como elogio, pois é assim que nós entendemos e conhecemos o Iraque, um país de pensamento iluminado, responsável e forte.
Ele acrescentou: “A participação iraquiana foi importante para o encontro entre os artistas árabes e mundiais. O Iraque chegou com seu visual, sua essência, grande carga de emoções e muita responsabilidade junto aos outros. Quero elogiar Hatim, Bushra e Samar. Este jovem cuja atuação recebeu de uma das examinadoras, uma americana, o seguinte elogio: “quando este jovem falava, meu coração disparava”. Me alegro quando me lembro do elogio. Esta distinção é uma medalha para mim. Nós devemos, sem dúvida, trabalhar juntos e não olhar para trás, nem para os patrocinadores nem para o governo. Esta é a sua terra e você precisa de qualquer forma trabalhar nela. Este prêmio não veio do nada. Estou muito otimista com o futuro.

A homenagem que recebo não é para mim, mas para Haqui El-Shibli, Ibrahim Jalal, Jasim El-Ubodi Badri Hassun Farid e As’ad Abd Al-Razaq. Também para meus professores que me apoiaram ao longo do caminho e me ensinaram a abrir meu coração para o mundo. Sem eles eu não poderia ter minhas asas e não seria o sujeito que eu sou hoje. Parte dessa homenagem também é para minha família que suportou todas as tempestades causadas por mim. Dedico àquele, o mais belo do todos nós, o Iraque, minha pátria, lar e fortuna, pois sem ele não existimos e nem existiremos. E para todo o sangue derramado.
O diretor Hatim Ouda, por seu vez, disse: “Não sei o que dizer e sobre o quê, depois da fala do nosso pai Shafiq Mahdi e do nosso outro pai Aziz Khaioon. Quero dizer que, se não fosse pelas nossas grandes tristezas, esta alegria não teria o mesmo sabor”. Ele acrescentou: “No Festival do Cairo eu percebi que o teatro iraquiano é avançado em todos os sentidos. Um teatro polêmico, persistente e moderno e que atinge vários ângulos, apesar da nossa fascinação por alguns espetáculos. Bushra Ismail disse: “Quero dizer só uma coisa. Dedico minha vitória ao povo iraquiano, ao teatro e a quem trabalha nele. Dedico também à minha família e àqueles que me parabenizaram”. O ator Samar agradeceu no seu discurso ao Instituto do Cinema e Teatro, além de todos os amigos que o apoiaram.

Depois da abertura, a equipe da peça recebeu vários jornalistas e artistas árabes para responder às perguntas. As palavras da Dra. Awatif Na’im marcaram o fim da homenagem: “Há alguns dias, alguém perguntou para um dos políticos: ‘O que o senhor acha do teatro iraquiano?’ Então, ele respondeu: ‘ Mas há um teatro iraquiano?’ Nos artistas precisamos amar uns aos outros e respeitar nossa produção. Isto sim é sinal de que o Iraque está vivo”. Ela disse também: “Chega de hipocrisia, de reclusão e de nos escondermos atrás das cenas. Precisamos ser verdadeiros para proteger nossa pátria, o Iraque, na esperança de novos anos de colheita de prêmios. Precisamos mostrar o tamanho do Iraque”.

Tradução : Khalid Tailche
Fonte: ELAPH.
http://www.elaph.com/Web/Culture/2009/10/497688.htm

quarta-feira, setembro 09, 2009

Um olhar iraquiano sobre Bagdá

Ana Maria Barbour

Sinan Antoon nasceu em Bagdá, em 1967, onde cresceu e estudou Literatura Inglesa, formando-se aos 23 anos, em 1990. Assim como milhares de iraquiano, ele e sua família deixaram o país em decorrência da Guerra Golfo e imigraram, em 1991, para os Estados Unidos da América. No país estrangeiro Antoon aprofundou seus estudos e pesquisas em Literatura Árabe com um mestrado na Universidade de Georgetown (1995) e depois adquirindo o título de PhD, por Harvard (2006). Em 2003, o Iraque voltou a ocupar as páginas dos jornais de todo o mundo com a queda de Saddam Hussein e a invasão estadunidense. Frustrado e indignado com a forma como seu país e seu povo estavam sendo retratados na mídia norte-americana, Antoon voltou, após doze anos, para sua terra natal com a intenção de produzir um documentário que revelasse as diversas faces e vozes do povo iraquiano, que contasse histórias de pessoas e seus sofrimentos sob a ditadura e a ocupação. Desta incrível experiência nasceu o longa-metragem Sobre Bagdá, finalizado em 2004 e exibido nesta 4ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. Como escritor, Antoon publicou, entre outras coisas, a coleção de poemas The Baghdad Blues (Harbor Mountain Press, 2007) e a novela, I'jaam: An Iraqi Rhapsody (City Lights, 2007), traduzida para alemão, norueguês, italiano e português. No Brasil, o livro foi lançado com o título Morrer em Bagdá (Editora Globo). O que você pensou quando deixou seu país, em 1991?Apesar de eu querer deixá-lo, pois era contra Saddam e queria ter liberdade para escrever, eu também estava muito triste em deixar familiares e amigos. Chorei porque sabia que levaria muito tempo para voltar e também porque tinha o sentimento de que o país mudaria tanto que, na realidade, eu o estava deixando para sempre.Como você foi recebido nos Estados Unidos?As pessoas em geral são boas, mas enfrentei visões estereotipadas e era comum ouvir perguntas como: “por que você ama Saddam?”. Os estadunidenses pensam que todos os iraquianos o amam. Quando critico a política externa norte-americana eles ficam bravos e alguns me mandam voltar para o Iraque. Quando isto ocorre eu responde que os Estados Unidos destruíram meu país e que por isto não posso mais viver lá.Quando foi que você se envolveu com cinema e por que?Todo mundo sonha em fazer um filme! Eu sempre quis, mas não tinha dinheiro nem tempo. Fiquei muito frustrado antes desta última guerra no Iraque e a forma como meu país estava sendo representado nos principais veículos de comunicação dos Estados Unidos. Eu quis trazer as vozes dos iraquianos e a sua diversidade para o filme. Quis que contassem suas histórias de sofrimento sob a ditadura e também sob a ocupação norte-americana. E é esta a mensagem que você quis passar com seu filme “Sobre Bagda”?Sim. Procurei ouvir as histórias de iraquianos de diferentes procedências e classes sociais para mostrar ao mundo que são pessoas complexas, como todos os seres humanos. Eles não pensam todos da mesma maneira e suas vidas vão além de Saddam X Estados Unidos. Por que você voltou ao Iraque apenas uma vez após 1991?Hoje eu moro e trabalho nos Estados Unidos, tenho meus compromissos. Além disto, a situação da segurança no Iraque desde 2003 é terrível. Há uma guerra civil e milhares de pessoas têm sido mortas. Três milhões de habitantes já deixaram o país desde a ocupação e hoje eles vivem refugiados. A ocupação gerou muita corrupção e está usando a religião e as diferenças étnicas como arma política para dividir as pessoas. Isto está sufocando o país e está custando a vida de milhares de pessoas. Por que todos pensaram que a ocupação seria ser boa? Isto é vida real e não Holywood.Como você vê o Iraque da sua infância e juventude e como o vê hoje?É muito triste. O que tem acontecido no país desde 2003 o destruiu completamente. Não que antes estivesse maravilhoso. Havia uma ditadura e faltava liberdade, mas a sociedade era estável, segura, havia ordem, sistema de saúde e outros serviços. Nunca gostei de Saddam, mas sinto pena pelas crianças que estão crescendo no Iraque de hoje. Elas não podem andar ou brincar nas ruas por causa do perigo. Existem atualmente no país um milhão de viúvas.Como era o Iraque no qual você cresceu?Era uma ditadura, mas era um país secular, no qual a religião não interferia na política. Não havia sectarismo religioso. Tínhamos água, eletricidade (hoje as pessoas só têm direito a seis horas de energia elétrica por dia) e excelente educação. Cresci brincando com meus amigos muçulmanos, sendo que venho de uma família cristã. Agora tem havido uma limpeza étnica, existem paredes separando bairros e as pessoas estão sendo assassinadas porque são diferentes.Do que você mais sente saudades?O que sinto falta não existe mais: a companhia de amigos e das pessoas queridas, andar em paz pelas ruas em Al-Karrada e ver belas estátuas. Andas ao longo do rio, beber com meus colegas da faculdade! Nada disto é possível hoje e quase todas as pessoas que conhecia se mudaram para outros países.E agora que as tropas norte-americana parecem estar deixando o Iraque, o que você acha que vai acontecer com a política e com o sentimento das pessoas?Os Estados Unidos destruíram o Iraque e suas instituições e agora estão deixando o país sem repor um sistema de Estado. Além disto, os norte-americanos não estão indo embora de fato. Eles terão bases no Iraque por muitos anos, para garantirem o acesso das companhias estadunidenses ao petróleo. Eles estão deixando as cidade e não o país todo. A maioria dos iraquianos quer eles fora, então deveriam ir. A história dos últimos duzentos anos nos mostram que seres humanos não gostam de ficar sob ocupação de estrangeiros e esta deve acabar mais cedo ou mais tarde no Iraque.Como você acha que os conflitos e guerras no Oriente Médio estão impactando a cultura árabe? Ao mesmo tempo em que há um interesse na cultura árabe pelo ocidente, infelizmente, na maioria das vezes, ela está sendo vista apenas através do prisma da violência e do terror. Não deveria ser assim, pois a cultura representa tudo relativo a vida de seu povo e não deve ser considerada a origem da violência no mundo árabe. As guerras e crises têm colocado artistas e escritores a pensarem, debaterem e questionarem em suas obras o que está ocorrendo ao seu redor. Tremores políticos e conflitos geralmente provocam a arte e a cultura e é isto que está ocorrendo no mundo árabe.Quais são seus próximos passos no cinema?Estou trabalhando com um colega em um filme sobre o poeta iraquiano Saadi Youssef. O que você achou da iniciativa do Instituto da Cultura Árabe dedicar uma programação especial a filmes iraquianos?Achei excelente. Vivemos em um mundo globalizado e estamos ligados pela tecnologia, mas ainda sabemos muito pouco sobre outras culturas. O Iraque é muito mais do que as notícias de violências que saem nos jornais. Nele vivem pessoas multidimensionais, com vidas, desejos e memórias
Fonte: ICArabe

quinta-feira, agosto 27, 2009

4ª Mostra Mundo Árabe de Cinema

Sobre Bagdá

Em julho de 2003, o escritor e poeta Sinan Antoon retorna a Bagdá para ver seu país após tantas guerras, sanções, décadas de opressão e violência e, agora, ocupação. Antoon nos leva a uma jornada que mostra o que os iraquianos pensam e sentem sobre a situação pós-guerra e a complexa relação entre os EUA e o Iraque.

Sobre Bagdá é uma viagem aos corações e mentes das centenas de iraquianos encontradas em Bagdá. Iraquianos de diferentes origens étnicas e orientações políticas falam sobre o passado de horrores e os medos do presente. São reflexões sobre o legado traumático da ditadura, que também abordam a resistência de pessoas que permaneceram por anos obscurecidas e desumanizadas por trás da imagem de Saddam. De poetas a políticos, de senhores idosos a soldados americanos, o filme navega pelos motivos que separam iraquianos e estadunidenses.

Fonte: ICARABE

http://www.icarabe.org/mundoarabe2009/

terça-feira, junho 16, 2009

Resenha



Souvenir Iraquiano, Robinson dos Santos. Blumenau: Editora Cultura em Movimento, 2005, 239 páginas.

A terra chamada hoje de Iraque é um país milenar que já foi o barco das civilizações mais antigas do mundo desde os sumérios, os babilônios e os assírios, até a chegada do islamismo no ano 637. O começo da construção de Bagdá, a nova capital do império árabe no ano 762, iniciou a época dourada da civilização árabe-islâmica. No Iraque moderno, muito dessa história é preservada em tesouros arqueológicos. Com a descoberta da enorme reserva do petróleo em 1927, aumentou ainda mais o interesse do mundo ocidental por esse país.
Em 1979, Saddam Hussein assumiu o cargo de Presidente do Iraque. Durante seu regime, o Iraque passou por três guerras. A primeira, que começou em 1980 e durou até 1988, foi entre o Iraque e o Irã. A segunda começou depois da invasão do Kuwait pelas forças armadas iraquianas em agosto de 1990, seguida dos combates para retirar as forças iraquianas do Kuwait pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, iniciados em janeiro de 1991; com ela foram encerradas as obras das empresas brasileiras no Iraque. A terceira guerra contra o Iraque comecou com uma resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro, sob a alegação de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, que nunca foram achadas até hoje. Esta última resultou na queda do regime do Saddam e na dissolução do exército iraquiano.
Essas guerras tiveram sempre o foco no poder do Iraque como uma forte força militar na região, além do seu papel econômico tendo uma das maiores reservas mundiais de petróleo. Durante os anos setenta e oitenta, o Brasil chegou a importar entre 40% a 70% das suas necessidades de petróleo do Iraque. A indústria bélica era uma prioridade no Iraque e no Brasil, ainda debaixo da ditadura, que também participava da máquina da guerra iraquiana. A política da guerra acabou marginalizando a importância histórica e os tesouros arqueológicos que o país possui, exceto pela propaganda política do ex-regime que aproveitava isso como uma fonte de inspiração para o povo combater os inimigos.
Muitos sítios arqueológicos foram danificados, além de sofrerem a ação dos ladrões e dos contrabandistas internacionais que aproveitavam a confusão, apesar da punição severa contra aqueles que fossem capturados. Depois da invasão americana de 2003 e da queda de Bagdá, o país entrou num caos generalizado e até o Museu Nacional do Iraque, considerado um dos mais importantes do mundo, foi saqueado e muitas relíquias da antiga Mesopotâmia foram roubadas ou destruídas.
Logo no começo do novo gênero literário de espionagem, o Iraque e sua capital tiveram o seu papel em provocar a imaginação dos escritores. Um bom exemplo disso é Aventura em Bagdá (They Came to Bagdad), da Agatha Christie (1890-1976), um romance publicado em 1951. No Brasil, esse gênero tem um marco em 2005, com o lançamento do livro Souvenir Iraquiano pelo escritor e jornalista Robinson dos Santos.
A trama elabora uma mistura de ficção e acontecimentos reais, como o próprio escritor nos diz. O livro conseguiu provocar a curiosidade deste leitor durante os seus quinze capítulos, que formam uma contagem regressiva de dois dias antes do ataque americano da Operação Tempestade no Deserto para libertar o Kuwait (1991), a partir do sexto capítulo. O escritor foi cuidadoso na sua pesquisa de cinco anos para alinhar a ficção com os acontecimentos históricos mundiais.
Os três personagens principais são o brasileiro Luciano, que precisa de dinheiro para garantir o caro tratamento da sua filha doente no Brasil; Fahed, um ex-coronel iraquiano que se cansou de guerras durante o regime de Saddam, e decidiu ter uma vida nova junto com sua família longe de toda a confusão causada pelas guerras; e Wittmann, um espião da CIA que quer aproveitar sua posição para ganhar uma fortuna. O alvo é uma usina nuclear que já foi desativada no Iraque, onde eles procuram um tesouro de relíquias.
A história, baseada em fatos reais, leva o leitor para a época dos contratos milionários que as empresas brasileiras tiveram no Iraque nos anos 80, e que a guerra do Kuwait em 1991 marcou o fim. A história começa no Sul do Brasil, onde Luciano tenta dar um jeito de arrumar algum dinheiro em pouco tempo. Ele e mais dois homens, Luís Carlos e Hermes, planejam o sequestro de um milionário, sob o comando do velho e experiente Aurélio. O plano falha e os três ficam devendo a Aurélio 200 mil dólares.
Desesperados, Luciano e Hermes resolvem ir para o Iraque com a esperança de encontrar relíquias arqueológicas em Osirak, a usina nucelar abandonada, na qual Luciano tinha trabalhado em 1980. Ao chegar à usina eles descobrem que as relíquias foram levadas por um coronel da Guarda Republicana. Luciano acredita que pode ser seu antigo amigo iraquiano Fahed. Mas eles são presos antes pela Polícia Secreta.
Fahed, que tentava levar as duas toneladas de relíquias para fora do Iraque, já tinha encontrado com um agente da CIA na Turquia que queria sua parte. Fahed estava também sendo investigado pela Polícia Secreta Iraquiana e acabou preso no mesmo lugar onde os dois brasileiros estão.
Quando o ataque das forças de coalizão começa, o prédio onde os três estão presos é atingido e eles conseguem escapar. Conseguem levar o caminhão que carregava as relíquias para Turquia. Lá, o ex-agente da CIA, com o apoio de um helicóptero militar americano, a Polícia Nacional da Turquia, e os brasileiros junto com Fahad que querem entregar a mercadoria para o contrabandista, se enfrentam.
Juntar as informações sobre o Iraque e os acontecimentos daquela época não foi fácil, de acordo com o escritor. Ele tinha que depender dos relatórios dos brasileiros que viviam lá trabalhando nas empresas brasileiras ou dos seus filhos que moravam junto a eles lá. Isso acabou distorcendo algumas informações.
Em relação à língua falada no Iraque, o escritor menciona soldados e policiais iraquianos falando em farisi, ou persa, a língua oficial do Irã, e que era considerada a língua do inimigo durante a guerra entre os dois países. O normal seria falar a língua árabe no Iraque, pois ninguém naquela época gostaria de ser acusado de espionagem. E em outra parte, ao falar sobre a culinária iraquiana, ele menciona que eles "...comeram carne de ovelha, arroz e legumes crus". Na verdade, o que os iraquianos comem de cru é pepino, tomate, cebola e alface como salada.
Houve também algumas confusões em relação aos nomes, como no caso de Azize, que é um nome feminino; o masculino, como aparece no livro, deveria ser Aziz. E também o nome do amigo de Fahad, o Coronel Osman. Este nome não é um nome comum no Iraque. Porém, o mais provável é que o nome fosse Otham e não Osman.
No final do quarto capítulo, durante uma conversa entre os dois soldados iraquianos que guardavam o sítio de uma usina nucelar abandonada, é mencionada uma marca do relógio com pulseira de titânio como sendo um relógio caro, na tentativa dos dois brasileiros de subornar os dois soldados. Vale a pena lembrar que mesmo sendo abandonado, não seria algo tão fácil entrar num lugar como esse principalmente durante aquela época. O soldado dificilmente se arriscaria por um relógio.
Em relação às mulheres iraquianas, o autor escreve no segundo capítulo: "...qual seria a mulher que teria possibilidade de juntar dinheiro suficiente para adquirir um automóvel?" Isto não é muito exato, pois a mulher iraquiana sempre teve o direito de trabalhar como os homens e ganhar dinheiro para comprar e dirigir seu carro. Além disso, o carro que o Brasil exportava para o Iraque não era o Fox, mas o Passat da Volkswagen.
Finalmente, na penúltima página o escritor faz um comentário sobre o iraquiano Fahad, dizendo: "Afinal de contas, era ou não era quase turco?" Iraque e Turquia são países vizinhos, e apesar da confusão entre os dois países aqui no Brasil, o Iraque é um país árabe e fala a língua árabe, enquanto a Turquia não.
O esforço do escritor rendeu um trabalho inovador e importante. Ele conseguiu levar o leitor para uma época marcante, para uma parceria entre o Brasil e o Iraque na qual a repercussão foi além do que nós pensamos - dois países que viviam sob dois regimes militares, o que acabou decidindo o destino das riquezas e das vidas de muitas pessoas.
Fonte:

domingo, junho 07, 2009

"Danos Colaterais"

Diz a ele "adeus" segurando suas lágrimas para que não a veja chorar antes da sua partida. Ela não lembra mais quantas vezes se despediu do seu único filho, na hora de deixar a casa para juntar-se à sua unidade do Exército. Viviam uma guerra feroz que durou muitos anos e matou milhares das pessoas. Cada vez que seu filho deixava a casa, ela tentava se distrair enquanto a sombra da morte a perseguia com sua risada sarcástica, insinuando que seu filho não voltaria, deixando as batidas do seu coração iguais às batidas do velho relógio na sala, esperando a volta do seu filho. Cansada pelo sono, ela foge dele até que fecha os olhos e dorme.
Os dias passam lentamente, feito caravana no deserto, até o dia que ela escuta o barulho do seu filho batendo à porta da casa, seus olhos brilham de alegria novamente. Ela agradece a Deus e se alegra com a chegada do filho e diz a ele: "Seu pai morreu sonhando com o Iraque livre, e hoje eu sonho com o fim dessa guerra para me alegrar vendo você casado e com filhos." Ele respondia dizendo: "Não se preocupe, minha mãe, Deus está conosco. Esta guerra terminará logo e a paz vai reinar." Ele sabia o quanto ela se preocupava com ele e sempre queria sossegá-la. Assim os anos passam até que um dia ela acorda e o povo está nas ruas dançando e celebrando. Ela pergunta a seu vizinho Abu Ahmad: "O que foi?" Ele diz a ela: "Alegre-se, Um Salam, a guerra acabou. Nós ganhamos a guerra." "Ganhamos?!", ela pergunta para si mesma. Bom, tudo o que queria era que a guerra acabasse e que seu filho estivesse vivo. Sim, ela ganhou a guerra naquela noite de 1988, em seguida fechou os olhos e dormiu profundamente como se tivesse ficado anos sem dormir.
Dizem que a felicidade não dura para sempre, mas no tempo da ditadura ela vive escondida, perseguida. Um Salam abre os olhos numa madrugada de 1990 e liga a TV como sempre, e se surpreende com a declaração da porta-voz oficial de Exército: "O que foi separado voltou à origem, e nossas tropas estão controlando o Kuwait!" O pesadelo era como se fosse um filme de terror que você volta a assistir pela segunda vez, sabendo que todos seus atores principais vão morrer antes do final. No mesmo dia, ele foi chamado para se juntar ao Exército.
A contagem regressiva acelerava antes das tropas da coalizão começarem seu ataque para libertar o Kuwait. A hora zero chega e o ataque começa ferozmente. O bombardeio aéreo não pára e Salam e seus colegas sentem que sua morte é certa, então decidem fugir. Ele volta para casa e sua mãe se alegra com a sua volta e faz questão de escondê-lo, mas seus olhos não dormem, pois ela sabia que a pena pra quem fugisse do Exército, naqueles dias, era a execução. Desta vez a roda da guerra é rápida e esmaga em menos de um mês e meio milhares de soldados. A guerra termina e uma anistia é dada para os desertores, e então Um Salam respira aliviada, seu filho ganhou uma nova vida.
Depois da guerra, a vida volta ao seu ritmo normal, e as pessoas voltam a suas rotinas. Salam é liberado do Exército e realiza o sonho de sua mãe, casando-se. A guerra do Kuwait foi muito curta, mas foi também o começo do embargo comercial contra o Iraque. Os preços começaram a subir e Salam e sua mãe começaram a sentir o impacto do embargo, principalmente depois que a mulher dele ficou grávida. Salam saía para trabalhar todos os dias pela manhã e só voltava à noite. Sua mãe, porém, agradecia a Deus dia e noite pela paz no país e rezava para seu filho ter sorte, todos os dias que abria seus olhos de manhã. Como sempre, ela acordava bem cedo e preparava o café para ele antes de ele sair para trabalhar.
O filho do Salam nasce, e ele o chama de Shukr, para agradecer a Deus pela sua graça. Todos em casa se alegram e esquecem o tempo das guerras. No relógio na sala, porém, o barulho de tique-taque continuava com a mesma monotonia do tempo da guerra como se fosse um tempo paralisado. Às vezes, no silêncio da noite, o barulho lembrava aqueles momentos terríveis, então ela rezava imediatamente, o que acalmava sua alma, e só assim ela conseguia dormir. Não é de se admirar, pois as guerras implantam sementes de medo nos corações das pessoas, sementes que crescem como espinhos. Assim, mesmo depois que as ervas daninhas da guerra morrem, o homem não as retira de sua mente; algumas delas se mantêm no seu pensamento, estragando sua alegria e fazendo-o se sentir culpado quando fica alegre, como se estivesse abusando no seu destino.
O fantasma da guerra aparece novamente pela terceira vez em 2003 e os EUA começam a ameaçar o Iraque novamente. Desta vez as pessoas estão perplexas, o que será que vai acontecer? Ninguém sabe. Uma coisa é certa: esta é a terceira vez, e, como diz o ditado popular que Um Salam gosta de repetir, "a terceira é certeza". Salam não foi chamado para o Exército desta vez por causa da sua miopia, que piorou nos últimos anos, o que acabou tranqüilizando sua mãe. Dias depois, Um Salam acorda com os barulhos dos gritos das celebrações, então ela sai para a rua para ver o que aconteceu, e agora o cenário havia mudado. Os soldados nas ruas não são iraquianos, mas americanos. Ela pergunta para o seu vizinho Abu Ahmad, que detestava Saddam depois que este executou seu filho que fazia parte de um partido da oposição: "O que aconteceu?" Abu Ahmad responde: "Alegre-se, Um Salam, os americanos arrancaram o tirano e vão implantar a árvore da democracia e liberdade em seu lugar." Ela disse a ele: "Seja o que Deus quiser. Somos pessoas simples e não temos nada em nossas mãos além de rezar para que a bondade de Deus domine este país."
A guerra termina rapidamente, os americanos declaram o cessar-fogo e desmontam o Exército e as forcas policiais; e então começa uma onda de assaltos, assassinatos e explosões. Os americanos tentam tranqüilizar a população, sem sucesso. Salam sai para comprar pão antes de escurecer. Seu vizinho, Abu Ahmad, o vê saindo de casa e os dois começam a andar juntos.
Salam demora a voltar, já passa das seis horas da tarde e ele ainda não voltou. Vários pensamentos passam pela mente de Um Salam e ela começa a se preocupar, sua nora a acalma dizendo que Abu Ahmad fala inglês e vai ajudar Salam no caso de eles serem parados por uma blitz americana. O tique-taque do relógio desta vez era como se fossem batidas na bigorna na cabeça de Um Salam. Ela não pára de olhar o relógio da sala de estar por um segundo. Finalmente, alguém bate na porta de sua casa. Um Salam abre a porta e vê Abu Ahmad parado na sua frente como se fosse um fantasma mudo. Ela percebe o que algo aconteceu e desmaia.
No dia seguinte Um Salam, deitada em sua cama, abre os olhos para ver sua nora e neto ao seu lado, junto à esposa de Abu Ahmad, com os sinais de tristeza na suas faces. Ela pergunta: "Onde está Salam?" Sua nora chora e sai do quarto. Ela volta a perguntar: "Onde está Salam, Um Ahmad?" Então a vizinha conta que seu filho morreu. Um Salam agarra a roupa da sua vizinha e pergunta: "Ele morreu como mártir defendendo seu país?" A resposta foi "Não". Então ela pergunta novamente: "Ele morreu como traidor ajudando os inimigos?" A preposta novamente foi "Não". "Então o que aconteceu?", ela pergunta histericamente. Um Ahmad responde: "Uma patrulha americana atirou nele e em meu marido por engano, quando estavam voltando da padaria, achando que eles estavam carregando explosivos, atiraram em Salam e quase acertaram em meu marido também. Abu Ahmad disse que eles chamam este tipo de falecimento de "Danos Colaterais".
O silêncio domina o lugar, exceto pelo tique taque do relógio na sala de estar e o gemido da viúva de Salam no seu quarto. Um Salam fecha seus olhos, desta vez para sempre.

Fonte:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3808675-EI6622,00-Conto+convidado+Danos+Colaterais.html

segunda-feira, maio 25, 2009

ESTATÍSTICAS

Ontem eu estava conversando com um colega meu sobre a situação no Iraque, principalmente em relação o impacto social... nós chegamos ao acordo de que nós vamos testemunhar uma crise social ou um desastre... a ética e a boa educação dos iraquianos estão mudando durante os anos de pós-guerra... muitas pessoas perderam a boa educação iraquiana.

Como ele é mais velho que eu, ele me disse que, depois de cada guerra, os iraquianos perdem um pouco da boa educação, e eu acho que ele está certo.

E hoje eu recebi um e-mail com algumas estatísticas muito interessantes que foram colocadas juntamente... e eu pensei que essas estatísticas serão uma ótima maneira de mostrar meu ponto de vista.

1,000,000 viúvas de acordo com a estatística publicada pelo Ministério de Mulher em 2008.

4,000,000 órfãos ( estimável pelo Ministério de Planejamento, a média da família iraquiana é de 4 – 6 filhos)

2,500,000 assassinados ( de acordo com a estatística do Ministério de Saúde e a Medicina Legal ( necrotério) até dezembro de 2008).

800,000 desaparecidos ( de acordo com o Ministério de Interior até dezembro de 2008)

320,000 prisioneiros nos E.U.A. e nos presídios do governo ( nos E.U.A cerca de 120.000 prisioneiros, e de 120,000 nas prisões).

4,500,000 refugiados fora do Iraque ( de acordo com o Ministério Iraquiano de Imigração e Refugiados).

76,000 casos de HIV ( de acordo com o Ministério Iraquiano de Saúde), o número era de 114 casos antes da guerra.

40% dos iraquianos estão abaixo da linha da pobreza ( de acordo com as estatísticas do Ministério dos Direitos Humanos do Iraque).

126 empresas estrangeiras de segurança ( registrada no Ministério de Interior do Iraque).

43 milícias armadas ( registrada no Ministério de Interior e no Ministério da Defesa).

Bom, é realmente algo assustador. Examine bem os números dos órfãos, das viúvas, dos assassinados e os desaparecidos e você certamente entenderá porque eu disse que teremos uma crise social.

Que Deus esteja com você.

Fonte :
http://last-of-iraqis.blogspot.com/2009/05/statistics.html

quinta-feira, março 19, 2009

Sangue e Tinta: agora, sobre a cultura iraquiana

Por: Sinan Antoon

Se a falsa propaganda e as justificativas políticas da invasão anglo-americana ao Iraque são hoje bem conhecidas do mundo, seus efeitos trágicos e repercussões, além das atuais guerra e ocupação, são quase impossíveis de medir e superestimar. A destruição do Estado iraquiano e de todas as suas instituições resultaram em um caos violento no nível sóciopolítico. Como um Estado e uma sociedade, o Iraque já estava enfraquecido por guerras anteriores, com o Irã, de 1980 a 1990, e com os Estados Unidos, pela primeira vez, em 1991. Vamos nos lembrar que o general americano Schwarzkopf vangloriou-se, em 1991, de os Estados Unidos terem “bombardeado o Iraque até a Era pré-industrial”.A guerra foi seguida pelas mais severas sanções econômicas da história moderna, de 1990 a 2003, nas quais a classe média iraquiana foi erodida e com as quais foi criado um vazio socioeconômico. Um milhão de civis morreu por causa do embargo e alguns poucos milhões, a maioria de iraquianos educados e uma classe média secular, deixaram o país em uma diáspora que se expandia. Por volta de 2003, o tecido social do país já estava severamente enfraquecido por todos esses fatores e por décadas da ditadura horrenda de Saddam. A invasão e a ocupação removeram a ditadura de Saddam, mas, com uma análise posterior dos fatos, isso parece ter sido uma consequência e não o objetivo.A ocupação desmantelou o Estado iraquiano e suas instituições (o exército, a polícia e os ministérios) e criou um vazio político por alguns meses antes de ver instalado um sistema político baseado no sectarismo e nas milícias no qual as únicas moedas de valor político são a religião e a etnicidade. Uma guerra civil logo seguiu e milhões, especialmente as minorias religiosas, foram forçadas a deixar o país e tornar-se refugiados. Centenas de milhares perderam suas vidas.Tudo isso teve efeitos trágicos no nível cultural também. Milhares de escritores iraquianos e artistas escaparam da ditadura de Saddam ainda cedo, nos anos 1970 e 1980, mas muitos mais partiram durante as sanções econômicas nos anos 1990. É difícil subdimensionar as condições calamitosas sob as quais os iraquianos viviam nos anos de 1990. O colapso do dinar iraquiano e da economia como um todo pode ser imaginado com um simples exemplo: o salário de um professor podia comprar dois ovos. O custo do transporte, de ida e volta, ao trabalho por vezes excedia o salário. Escritores e artistas, assim como companheiros cidadãos, foram forçados a tomar outras profissões e vender seus pertences, especialmente livros, para sobreviver. A falta de papel fez com que não fosse surpresa ver um sanduíche shawarma embrulhado por uma página arrancada de um livro. Muitas das publicações, que proviam algum tipo de discussão interna, foram descontinuadas, assim como as oportunidades para publicar ou disseminar o trabalho de alguém. O embargo afetou a habilidade do Iraque conectar-se à Rede Mundial. Igualmente importante e desastroso foi o isolamento em relação ao resto do mundo e a impossibilidade de ter-se acesso a livros, revistas acadêmicas, etc... por parte de escritores e artistas que viajavam e atendiam a conferências e festivais. O senso de isolamento e abandono se manifestaria na produção cultural do período, na forma e no conteúdo, especialmente na escrita.É importante, também, lembrar o espírito de recuperação e resistência humanas daqueles que se recusaram a serem derrotados pela opressão dual imposta a eles vinda tanto de dentro quanto de fora.O vazio, político e de outras formas, produzido pela invasão e pela ocupação desde 2003 foi preenchida pelo caos em todos os campos - cultural, institucional e outros - sem exceção. A profusão de jornais e outros escapes e alternativas de mídia são celebrados, por vezes, como uma consequência positiva da situação. Enquanto o crescimento do espaço de expressão e comunicação é sempre positivo em princípio, um breve olhar em muitas dessas publicações e alternativas é suficiente para refletir sobre sua natureza problemática. Apesar de poucas exceções, as tendências tribais e sectárias podem ser facilmente detectadas nos pontos de vista e discurso. O caos e a confusão no campo da política têm eco na cultura também. Infelizmente, as práticas e os discursos de Saddam são recuperados. O conteúdo pode ter mudado, mas não a forma e os métodos. Ironicamente, mas não apenas para a surpresa de alguns de nós, mesmo os Estados Unidos replicaram algumas dessas práticas que fizeram Saddam notório no campo cultural. Tinham, antes mesmo da invasão, seduzido e contratado intelectuais iraquianos e escritores que estivessem dispostos a trabalhar como porta-vozes.Mais importante, talvez, é que as condições diárias sob as quais os iraquianos vivem, sejam escritores e artistas ou não, deteriorou-se a níveis sem precedentes, fazendo da vida um pesadelo. A falta de necessidades básicas (eletricidade ainda não voltou aos níveis pré-guerra e escritores reclamam disso em websites), a falta de segurança e liberdade de movimento, a violência incessante das milícias e o crime ocasional faz muito difícil o ato de produzir ou comunicar. A destruição do sistema educacional do Iraque sofreu vários golpes sob o Baath e depois por causa das sanções contínuas. Até hoje 350 professores universitários foram assassinados. Este é um número absurdo para um país que já sofreu o êxodo de sua intelligentsia e de seus educadores.Apesar da falta de eletricidade e do severo sofrimento econômico, é no ciberespaço onde muito do tráfico cultural está tendo lugar, pois obviamente permite discussões mais elevadas. É também no ciberespaço onde os escritores iraquianos de dentro do Iraque e aqueles na diáspora estão encontrando-se mais freqüentemente, mesmo que nem sempre amigavelmente. Há, surpreendentemente, alguma tensão por vezes e algumas embate entre aqueles que ficaram e os que fugiram. Enquanto o ciberespaço permite uma maior liberdade e menos restrições, é também objeto para o caos e a falta de regras.A cultura iraquiana encontra-se em um paradoxo único. A grande maioria de seus escritores e artistas vive fora do Iraque. Eu não estou de forma alguma menosprezando ou descartando a importância daqueles que estão dentro, mas é uma realidade material que um número desproporcional de escritores e artistas iraquianos, assim como cidadãos em geral, vivem hoje na diáspora. Assim como em outros momentos da cultura da diáspora, muitos desses exilados iraquianos estão interagindo com os países, línguas e cultura que os receberam e enriquecendo-os. Muitos deles iniciaram projetos, instituições e revistas e fazem traduções, nos dois sentidos, entre o árabe e outras línguas. Alguns estão escrevendo nas novas línguas que adotaram.Em um momento em que o Iraque e suas história e memórias estão sendo engolidos por um gigantesco buraco negro de destruição e desmembramento, a tarefa de escrever, reescrever e preservar as narrativas iraquianas e opor-se ao que o Império e seus escribas, por um lado, estão jogando pelo ralo, e por outro a milícia cultural está tentando institucionalizar, torna-se duplamente importante. Por essa razão, a tarefa e o ônus, para não falar da urgência, da produção cultural atual e futura é ainda mais indispensável preservar a memória e guardá-la. O desafio e as responsabilidades encarando os produtores culturais iraquianos são as de que são os últimos guardiões do significado e da memória, para usar uma frase de Hanna Arendt, e há milhões de fragmentos para carregar e reconstruir dos escombros com a paciência de Sísifo.

Por Sinan Antoon, poeta nascido no Iraque e tradutor. Publicou o romance I`jaam: An Iraqi Rhapsody, que foi traduzido para o inglês, alemão, norueguês e publicado no Brasil pela Editora Globo como “Morrer em Bagdá”. Antoon retornou a Bagdá em 2003 como um membro de InCounter Productions, como co-diretor e produtor do documentário “About Baghdad”, sobre a vida dos iraquianos no Iraque pós-Saddam ocupado.
Fonte:
http://www.icarabe.org/CN02/artigos/arts_det.asp?id=178

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Poesia

Bagdá ...Oh Bagdá

por Khalid Tailche

Destruíram meu país
e nas suas ruínas
implantaram o terror

Araram a terra com as bombas
e irrigaram suas diabólicas ervas
com as lágrimas das viúvas

Bagdá...
terra da alegria e da música
terra de ciência de literatura
tornou-se a terra de lamúria

Suas portas estão abertas
para o vento amarelo
Suas ruas são refúgios
para os lobos frenéticos
e os bêbados de sangue

Bagdá, Oh Bagdá
roubaram sua riqueza
e expulsaram seus filhos
e não deixaram em ti
pedra em cima de pedra

Tivemos paciência
seja paciente
Para cada doença há remédio
e para cada criminoso há destin

Fonte:

http://www.icarabe.org/CN02/historia/pron_det_poesias.asp?id=45

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Cultura


CHAI

O chá, chamado de Chai no dialeto iraquiano, nasceu na China e passou pelo países árabes no seu caminho para a Inglaterra, onde no século XIX começou a fazer parte da cultura inglesa. Com as invasões inglesas, a tradição do chá da tarde começou seu caminho de volta para o oriente. Depois da longa invasão turca, começou a invasão britânica no Iraque em 1914. O hábito de tomar o chá preto, que apesar do nome tem a cor avermelhada, se concretizou. As casas de chá até hoje tem o nome de gahwa (Café) no capital Bagdá e no sul do Iraque, e de chai-khana (casa de chá) no norte do Iraque. Tanto a palavra chai-khana quanto a palavra estican ( xícara de chá) tem o nome turco. Assim o chá é oferecido para as visitas como um sinal de hospitalidade.

O modo de preparação do chá tem o nome de takhdir que se refere ao processo de fermentação. Logo depois que a água ferve no próprio bule de chá, o chá preto é adicionado e o fogo é abrandado por alguns minutos para só então desligar-se o fogo. Depois de alguns minutos o chá é servido nos esticans, que são feitos de vidro transparente e bem fino e as vezes decorados com linhas douradas, o que permite ver a cor e sentir o calor do chá nas pontas dos dedos antes de tomá-lo. E como acontece em várias culturas, o processo de preparação do chá trasmite uma certa harmonia e tranqüilidade. Nas casas, o chá é tomado quase em todas as refeições, alem do chá da tarde.

O mais interessante é como o povo absorve os costumes importados e os reproduz de uma forma nova. As chai-khanas ou gahwa se tornaram o lugar de encontro onde os homens bebem o chá e fumam enquanto conversam, jogando gamão ou dominó. Alguns desses lugares se tornaram bem conhecidos por promoverem encontros dos poetas e dos cultos e por ser um espaço de debate. Mesmo com a transformação da estrutura sócio-cultural eles resistem ao tempo mantendo seus braços abertos sobre aqueles que procuram um oásis para um descanso ou uma diversão.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Bader Shaker Al-Sayyab


A Canção da Chuva

Seus olhos são dois bosques de palmeiras na aurora ou duas varandas de onde a lua se afasta.
Quando seus olhos sorriem, as folhas de uva brotam
e as luzes dançam como as estrelas
num rio encrespado pelo remo no despertar da aurora,
brilhando nas profundidades dos seus olhos
e se afogando em tristeza e ternura,

como o mar dominado pelas mãos da noite,
com seu calor de inverno, tremor de outono ,
a morte, o nascimento, e as trevas
e a luz desperta dentro da minha alma o tremor do pranto
é um êxtase selvagem que abraça o céu
como o delírio de uma criança que teme a lua!

Como se o arco-íris fosse bebendo as nuvens
e gota a gota as vertessem em água da chuva O riso dos meninos gorjeia nas parreiras
e quebra o silêncio dos pássaros nas árvores
A canção da chuva

Chuva...
Chuva...
Chuva...

A tarde bocejou e as nuvens ainda
derramam suas lágrimas pesadas.

Como um menino
a balbuciar antes de dormir, querendo sua mãe
Há um ano, quando acordou, não a encontrou e insistiu
Diziam-lhe:
“voltará depois de amanhã,
Sem falta voltará”
e sussurrará aos amigos que ela está lá
ao pé da colina dorme
num sonho eterno
servindo-se da terra e água da chuva,
como um pescador tristonho a recolher a rede
amaldiçoando as águas e o destino,
espalhando o canto onde se eclipsa a lua

Chuva...
Chuva...

Você sabe que tristeza provoca a chuva?
e como as calhas soluçam quando ela cai?
e como faz o solitário se sentir perdido?
Sem fim, como o sangue vertido, como os famintos,
como o amor, como os meninos, como os mortos...
Isto é a chuva!

Suas pupilas me levam com a chuva,
e através das ondas do golfo, os relâmpagos banham
a costa do Iraque com estrelas e conchas,
querendo nascer como o sol,
mas vem a noite e os cobrem com um manto de sangue.

Grito ao golfo : “ Oh! golfo,
Oh doador das pérolas, de conchas e ruínas!”
E me volta o eco
como um soluço
“Oh! golfo
Oh doador das pérolas, de conchas e ruínas ..!”

Quase ouço o Iraque guardando os trovões
armazenando os relâmpagos nas planícies e nas montanhas,
e quando se afastam, os homens acabam com o resto.
O vento de Thumod não deixou
qualquer vestígio no vale.

Quase posso escutar as palmeiras bebendo a chuva,
as aldeias gemem,
e os imigrantes lutam com os remos
e as velas, os temporais do golfo e os trovões, cantando:


Chuva...
Chuva...
Chuva...

No Iraque há medo e fome
Os grãos são espalhados na época da colheita
para satisfazer os corvos e os gafanhotos,
esmagando os celeiros e as pedras
uma moenda que gira nos campos... e ao redor dela, homens

Chuva...
Chuva...
Chuva...

Quantas lágrimas derramamos na noite da partida
E percebemos com medo
Que seriamos acusados de provocar a chuva.

Chuva...
Chuva...

Desde que éramos pequenos, o céu
se cobria com as nuvens no inverno
e caíam os cântaros da chuva,
e a cada ano, quando a terra se cobria de ervas,
sentíamos fome,
nunca passou um ano que o Iraque estivesse sem fome,

Chuva...
Chuva...
Chuva...

E em cada gota de chuva
vermelha ou amarela da cor das rosas,
cada lágrima dos famintos e dos nus
e cada gota derramada de sangue dos escravos
é um sorriso que espera uma nova boca
ou um mamilo que floresce na boca do recém nascido
no jovem mundo do amanhã, o doador da vida!

Chuva...
Chuva...
Chuva...

o Iraque será coberto de ervas com a chuva...

Grito ao golfo : “ Oh! golfo,
Oh! doador das pérolas, de conchas e ruínas!”
e me volta o eco
como um soluço
“Oh! golfo
Oh! doador de pérolas, de conchas e ruínas!”

O golfo espalha seus grandes tesouros
sobre as areias: espuma de sal, e as conchas,
e os restos de um miserável afogado
do imigrante que bebeu a morte
do fundo das águas do golfo,
quando no Iraque há mil víboras que bebem o néctar
de uma flor que o Eufrates alimenta com orvalho.
Ouço o eco
Que se repete no golfo

“Chuva...
Chuva...
Chuva...”

Em cada gota de chuva
vermelha ou amarela da cor das rosas,
cada lágrima dos famintos e dos nus
e cada gota derramada de sangue dos escravos
é um sorriso que espera uma nova boca
ou um mamilo que floresce na boca do recém nascido
no jovem mundo do amanhã, o doador da vida

E caem os cântaros da chuva.
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Traducão: Khalid Tailche

Fonte
المصدر : عن ديوانه " أنشودة المطر " ، ضمن مجموعته الكاملة المجلد الأول ص 474 . دار العودة - بيروت - 1997
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BADER SHAKER Al-SAYYAB (1925-1964)

O poeta Bader Shaker Al-Sayyab nasceu na cidade de Jecor localizada no sudeste da cidade de Basrah no sul do Iraque, em 25 de dezembro de 1925. Ele nasceu numa família sossegada que tinha fazendas de palmeiras por muitos anos no sul do Iraque. Ele teve uma infância feliz, mas sua felicidade terminou com o falecimento da sua mãe dando a luz em 1932 quando ela tinha vinte três anos de idade.

Al-Sayyab estudou numa escola primaria de meninos na cidade de Abu El-Khassib. Desde cedo ele começou escrever poesia o que chamou a atenção dos seus professores que o apoiavam para que escrevesse em árabe padrão.
Ele terminou seu estudo secundário na cidade de Bagdá em 1943 e começou a estudou no instituo superior dos professores ( Faculdade de Educação) em qual ele estudo por quatro anos e escreveu seus pomas cheios de saudade. Uma das suas colegas na época era a bem conhecida poeta iraquiana Nazik Al-Malaaika.

Foi preso e desligado da faculdade em 1946 por suas atividades políticas. Depois de pouco tempo foi libertado, mas foi preso de novo em 1948 e 1949, quando perdeu seu trabalho e acabou sendo proibido de dar aula por 10 anos. Passou dias difíceis de pobreza e humilhação. Em1952, por causa da situação política perturbada, fugiu escondido para o Irã e depois para o Kuwait onde ele teve uma vida de refugiado.

Al-Sayyab voltou para Bagdá muitos meses depois onde ele encontrou com seu velhos amigos. No ano de 1954 ele publicou seu poema ( Inshudat Al-Matar) ou A Canção da Chuva numa revista chamada ( Al-Adab ). Depois do seu casamento em 1955 ele começou trabalhar com tradução de poesia inglesa para o árabe. No 1957 ele começou escrever para a respeitada revista libanesa (Poesia) ao lado dos pioneiros da poesia moderna árabe como Adonis, Anis Al-Haag e Jabra Ibrahim Jabra.

Quando a monarquia acabou em 1958, e com a libertação dos prisioneiros políticos, Al-Sayyab sentiu que seu sonho foi realizado, mas rapidamente a disputa interna que tomou conta da sociedade acabou o prejudicando, e então foi demitido de seu trabalho em 1959 quando começou uma nova faze difícil da sua vida. Em 1961 foi preso e libertado no mesmo mês e mesmo voltando ao seu trabalho, sua saúde começou a deteriorar até que foi internado em 1961.

Assim começou sua longa viagem com a doença. Ganhou uma bolsa para Inglaterra, Universidade de Durham, para obter seu doutorado e tratar sua doença, mas sua saúde deteriorou e resolveu voltar para Londres, onde foi internado. No seu caminho de volta passou pelo Paris onde teve outros exames sem resultados positivos, ele acabou voltando para o Iraque e depois para o Kuwait onde ele faleceu por a complicações das doenças em 24 de Dezembro de 1964.